Concordas com a compensação que o governo dos Açores quer dar aos funcionários regionais pelo corte de salários determinado no Orçamento do Estado?

domingo, 12 de dezembro de 2010

António Barreto

Guião da peça de teatro:

Ana -O pão? Ai o pão Meu Deus, o que lhe vai acontecer?
Sofia -Cale-se mulher, o que foi agora? Todos os dias arranja um motivo novo para se queixar.
Ana -A menina diz isso porque não viveu no meu tempo… ai minha mãezinha do céu, onde vamos parar?
Sofia -Deixe-me dizer-lhe que o que havia no seu tempo de velha caduca, existe hoje de igual forma.
Ana -A quem é que a menina ousa chamar caduca? Caduca é a menina por nunca ter trabalhado nos campos, nos mares ou nas indústrias…o meu homem coitado, o meu homem e eu é que sabemos.
Vânia -Boa tarde minhas senhoras, não pude deixar de ouvir a vossa conversa. Cheguei há pouco tempo pela primeira vez a Portugal e gostava de saber como estão em termos económicos e sociais.
Ana -Quer mesmo saber nina? Olhe, nos anos 50 Portugal era um país muito atrasado, os portugueses eram todos tão pobrezinhos… eu e a minha família vivíamos em duas casinhas. Os meus irmãos mais velhos (um que tem a idade do meu homem e outro 80 e tal que já está com Nosso Senhor) dormiam lá no casal cheio de palha em cima de uns sacos e com umas mantitas. As raparigas dormiam numa cama muito pequena, umas duas à cabeceira e outras três aos pés, o resto dormia aos pés da camita dos meus pais.
Sofia -Cale-se mulher, vem para aqui falar da sua vida quando não foi nada disso que lhe foi pedido. E tu és outra burra que vens para aqui perguntar a uma velha destas o que era Portugal, com a idade que tem achas que se lembra? Parece impossível!
Vânia -O que me ensinaram na minha terra é que é nos mais velhos que está a experiência, da mesma forma que eles aprendem connosco, aprendemos com eles também. Antes de vir falar com esta senhora obviamente que me informei e soube que mais de metade da população trabalhava nos campos, nas aldeias e nas pequenas vilas, que os homens usavam poucas máquinas e não tinham regadio… (interrupção)
Sofia -Mas isso é porque eram antiquados, ora essa! Eram burros, usavam carros de bois e tractores, ceifavam o cereal à mão e cavavam a terra com enxadas. Não deviam ter mais que fazer.
Ana -Na minha herdade ceifávamos de sol a sol, almoçávamos pelas 10h coisa assim do género e só tínhamos uma hora, ao jantar é que tínhamos duas horitas. E enquanto os jovens hoje comem cereais ao lanche ou vão ali ao tasco comer um prego no pão e uma minizita pró bucho, a nossa merenda era um pão com queijo ou com azeitonas. Era complicado. (ar de tristeza)
Vânia -Sei também que nos anos 50 e 60 a população continuava a aumentar, muitas famílias foram obrigadas a mudar de vida devido à pobreza e…
Sofia -E as cidades cresceram por causa da mão-de-obra nas indústrias, o que fez vários homens abandonar o campo à procura de uma vida melhor. Mas julgam que também não sei, é?
Ana -Afinal não é tão burra quanto eu pensava menina, mas a verdade é que o crescimento industrial não foi suficiente o que fez com que muitos homens emigrassem para a Europa.
Os que ficaram produziam pouco e ganhavam mal comparado com os que partiram.
Sofia -Lembro-me perfeitamente de ouvir os meus pais lá em casa a falar da adesão de Portugal à EFTA, do aparecimento de várias marcas de carros, do desenvolvimento da indústria de celulose e de concentrado de tomate…
Vânia -Corrija-me se estiver errada, mas houve muitos homens a ir para novos empregos nas cidades devido ao crescimento das indústrias, outros estavam emigrados ou partiram para a guerra colonial. Estou certa?
Ana -Está certíssima menina, com isso desenvolveram-se os portos marítimos de Sines e de Viana do Castelo e as mulheres trabalhavam cada vez mais fora de casa precisamente porque não havia homens suficientes.
Sofia -Graças a Deus que se desenvolveram, agora é mais fácil para mim ir trabalhar para fora e mandar os meus produtos para fora e melhorar assim a economia interior.
Vânia - E em que é que isso lhe facilita a vida?
Sofia - À medida que a economia cresce a parte do emprego dedicada à agricultura diminui, dando-se assim o processo de terciarização da economia que resulta do aparecimento de serviços auxiliares à indústria como os transportes, bancos e seguros.
Ana - Mas em que é que a menina trabalha afinal? Estou curiosa…
Sofia - Gestão de empresas. Sabe que para as empresas crescerem é necessário recorrer à fusão de empresas, através da atribuição de acções ou cotas aos sócios ou de transferência de património de uma empresa para a outra. Isto leva à concentração do capital e à redução da concorrência no mercado, tal como dos custos de produção.
Vânia - Sabe que em Portugal tem se dado recentemente a desindustrialização?
Sofia -Ninguém melhor do que eu sabe isso.
Vânia – Muitas empresas industriais passaram a subcontratar serviços que antes produziam internamente e estes deixaram de ser contabilizados como actividades industriais. A importância crescente dos serviços é explicada pelas alterações que têm vindo a ocorrer nas preferências dos consumidores…
Sofia - …claramente como o lazer, a educação, o turismo e a saúde.
Vânia – Como ia a dizer, e na organização de empresas.
Ana – Ah, já percebi. Então isso quer dizer que tem levado a um crescimento mais intenso da procura de serviços, meninas?! Só tenho uma dúvida, agora que tenho uma televisãozita em casa, oiço falar muito dos tics, que tics são esses?
Sofia – Não são tics nenhuns, são as TIC!
Vânia – Eu explico, as TIC são as tecnologias de informação e comunicação. Entrámos numa economia em que os pilares centrais são a informação e o
conhecimento, os serviços serão cada vez mais, um factor estruturante do desenvolvimento sustentável.


Biografia de António Barreto:
  • Nasceu no Porto, a 30 de Outubro de 1942;
  • Cientista social e cronista português;
  • Licenciado em Sociologia e em Direito;
  • Temas da sua investigação: emigração, socialismo e reforma agrária, evolução da sociedade portuguesa, indicadores sociais, justiça, regionalização, Estado e Administração Pública, Estado Providência, comportamentos políticos, retrato da região de Entre Douro e Minho;
  • Bibliografia: "Capitalismo e Emigração em Portugal", "Independência para o Socialismo", "Tempo de Mudança", "Sem emenda", "Regionalização: sim ou não", "Crises da justiça? A justiça em crise", "Tempo de incerteza", Globalização e migrações".

Análise de gráficos: (página 25 do manual)
  • Em 1990, o sector primário era aquele que possuía maior número de empregados, cerca de 62%, porém, em 2000 era já o sector terciário que possuía maior número de empregados, cerca de 50%. O número de empregados desceu de cerca de 62% para 10% num período de 100 anos. Pelo contrário, o número de empregados nos sectores secundário e terciário aumentou bastante.7
  • Em 1953, o PIB era composto por cerca de 28% do sector primário, 33% do sector secundário e 39% do sector terciário. Em 1993, o PIB já era composto por cerca de 60% do sector terciário, enquanto que o sector primário cerca de 5%.


Ana Garcias, Sofia Rodrigues, Vânia Betina

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A DIFERENÇA ENTRE DÍVIDA PÚBLICA E DÉFICE

Dívida Pública é a dívida contraída pelo governo com o objetivo de financiar gastos não cobertos com a arrecadação de impostos.



Défice ou deficit é um termo da contabilidade de origem latina, que se caracteriza por um saldo negativo. Num orçamento, o saldo negativo ocorre quando os gastos ou despesas superam os ganhos ou receitas (basicamente oriundas da arrecadação de tributos). Se o saldo é negativo, o orçamento é chamado deficitário.

Marta Fernandes